2h11 - Estou na cama, pronto para dormir, enquanto o sono me der tréguas. Gostava de ter tido tempo e iniciativa de escrever isto mais cedo. É evidente que a minha relação com o blog anda bastante distante, e não tenho motivos para me desculpar. Talvez aquela história de que perdemos algumas virtudes próprias da infância à medida que crescemos seja verdade...
Apesar disso, Natal é Natal. É uma altura que me obriga a pôr de lado a história de não ter inspiração, vontade, ou o que for. E de facto, hoje sou obrigado a escrever. Não é uma obrigação imposta feita a mim próprio, mas sim um sentimento inato de que o dia de hoje merece uma reflexão.
Gostava de ter tido tempo para rever os textos que escrevi nos anos anteriores... De De reflectir, de imaginar, e de pensar. Pensar naquelas coisas em que pensei no ano passado, daquele desejo de omnipresença de que falei. Gostava de me ter voltado a llembrar do faroleiro perdido no meio da escuridão, por exemplo.
Hoje não consegui fazê-lo. Não consegui isolar-me e abstrair-me da confusão exterior por uns minutos como era normal. Mas não quero pensar que isso significa uma mudança na minha forma de pensar e de ver o mundo. À medida que crescemos (e que vamos perdendo algumas virtudes), passamos a ter que pensar noutras coisas. Pensamos no passado, e percebemos como o mundo mudou à nossa volta. Pensamos no futuro, e tentamos prever como será a trajectória seguinte dessa mesma mudança. Entendemos que a realidade é algo que muda a cada instante e de uma forma tão rápida que nem nos dá tempo para dela desfrutarmos como devia ser. Entendemos que somos apenas marionetas da causalidade e personagens de uma história que não escolhemos protagonizar.
Hoje o meu pensamento foi fiel a si próprio. Deixou-se de coisas e limitou-se àquilo que sempre fez. Observar o mundo como uma história e colocar-me a mim como a personagem principal. Mas algo me diz que esta história ainda vai demorar mais algum tempo. Para o ano conto-vos o episódio seguinte… Bom Natal para todos!
22:19h. Provavelmente, mais de metade dos portugueses está neste momento à mesa, em família, a saborear a refeição preparada cuidadosamente durante a tarde. Os telefonemas e as mensagens já estão todas enviadas. Conversa-se, e a televisão está ligada num canal onde passa um filme a que poucos dão atenção. Recordam-se momentos, os mais novos esperam nervosamente pela meia-noite (os que esperam), e os mas velhos meditam sobre a quantidade de natais a que ainda assistirão. Nas famílias melhores partilham-se experiencias e aproveita-se para relembrar o amor que as ligam. Nas piores, faz-se o possível para evitar problemas, pelo menos nesta noite.
A minha ingenuidade leva-me a acreditar que até o marido alcoólico tenta hoje concentrar na família a sua atenção, e que o toxicodependente tenta reservar um pouco da sua noite para pensar no futuro. E os ladrões, roubarão hoje? E os doentes, será que a sua dor aliviará? E astronautas? E as crianças que são escravizadas na Índia, será que hoje trabalharam menos? E os maquinistas dos comboios, fechados numa cabine no meio do nada? E os pescadores, no meio do mar, estarão unicamente concentrados no pescado? E qual será o tipo de clientes que um taxista apanhará à meia-noite de hoje?
Sempre me surgiram estas dúvidas. Gostava de ser omnipresente, e observar sempre tudo o que me apetecesse, assim como oiço sempre qualquer música que me venha à cabeça quando estou no Youtube. Apetecia-me estar agora no Cabo Espichel, e saber o que estará o faroleiro a fazer. E nas estações meteorológicas, haverá alguém a estudar os dados climatéricos para que amanhã possamos ver as previsões na televisão? E depois seguir rapidamente para outro sitio qualquer. Estar em todo o lado, era a prenda que mais desejava, se calhar por ser impossível...
Mas será que esta magia natalícia que eu sinto está presente em todo o lado? Sei que não. E não são só os sem-abrigo que não a sentem, como por vezes esta sociedade de olhos fechados quer fazer passar. Sei que haverá permanentemente alguém a sofrer, a chorar, e a nascer e a matar. Se calhar mesmo ao nosso lado. E se calhar até são algumas dessas coisas que uma parte de nós está a fazer, sem que demos por isso. Este estado de espírito que sinto e que sentem aqueles que estão à minha volta é apenas um sentimento. Um sentimento tal como outros, que por mais que gostasse, não é universal.
Sinto-me bem por poder senti-lo, e sinto-me mal por haver quem não o possa sentir.
Feliz natal!
Num Natal estranhamente mais familiar, recebi prendas nem por isso extravagantes. Mas pela primeira vez, acho que gostei praticamente de todas. Tinha planeado que o Natal se comemorasse em minha casa. E aconteceu, ainda que não por influência minha xD. Como escrevi anteriormente, dou algum valor às prendas, por isso não podia deixar de fazer referência a elas. A par de um começo de gripe (contagiada provavelmente no dia de Natal, e que se estendeu a muita gente da família), seguem-se aquelas que mais me marcaram...
1 Mp4.
1 Relógio.
1 CD.
1 Livro.
Dinheiro.
Entre as novidades, chega também uma breve actualização
gráfica no Contraditório para refrescar isto! xD
O Natal chega a todos, ninguém lhe consegue ser completamente indiferente, e cada um vive-o de uma forma e intensidades diferentes. Sobre o Natal eu não vou dizer nada.
Feliz Natal...