Tenho de dizer, ainda que com muita tristeza, que a minha família não de todo aquela que eu gostava de ter. Quando nos livros, na rua ou nos blogs oiço pessoas a falar de familiares com uma personalidade muito bonita ou um carisma muito peculiar fico com vontade de ripostar, como me acontece sempre em qualquer que seja o assunto. Mas neste, tenho de ficar calado. Não tenho dessas pessoas na família, e não há como fugir.
A generalização que acabei de fazer não tem em conta casos excepcionais. Claro que cada pessoa tem sempre um lado bom e um lado mau, e eu não tenho apenas familiares com um lado mau maior que o lado bom.
O meu avô que morreu em Maio distiguia-se pela sua inteligência, pela tolerância, pelas brincadeiras que fazia, e certamente por muitas outras coisas que eu infelizmente não descobri. Não merecia a maneira como morreu, mas há-de ter ficado contente ao ver a multidão que se quis despedir dele pela última vez. Possivelmente voltou a ficar triste com outras coisas que se passaram daí para cá, muitas protagonizadas por mim mesmo, mas nada que eu pudesse evitar.
Se pensar na minha família paterna a tarefa de encontrar pessoas com um lado bom muito grande torna-se mais difícil, é verdade, mas existem. Assim à primeira impressão lembro-me da tia Alzira. Não sei se era uma pessoa muito boa, mas distinguia-se e não era pela negativa. Quando ela me surprendia com brincadeiras ou com piadas próprias de crianças eu interrogava-me. Onde é que ela tinha ido buscar aquela maneira de ser tão jovial, tão diferente das irmãs? Era das pessoas de que gostava mais, apesar de ela não saber isso.
Acho que não voltei a vê-la desde aquele dia em que fui com a minha avô visitá-la ao Hospital de Santa Maria, julgo que no natal de 2008. A partir daí ela deixou de rir, e hoje morreu. A minha família está pior.
[Acho que as fotografias, além de momentos, revelam emoções e sentimentos. Pelo menos, as mais marcantes. Já não sei bem o que me passou pela cabeça quando resolvi tirar aquela fotografia enquanto estava no carro, abrigado do frio, à espera que a delegada de saúde chegasse para confirmar o óbito do meu avô. Acho que foi para retrarar a morte.]
-Porquê que tu és assim?
-Não sei, sou diferente...
-Tu não és diferente! Tu queres ser mas não és, és igual a todos os outros!
O diálogo de hoje não se relaciona muito com o que vou escrever, mas mesmo assim quis partilhá-lo aqui devido à violência que estas palavras têm em mim. Afecta-me muito mais ser conotado como igual aos outros, do ser visto como diferente. Se calhar este facto prova que a diferença assenta mais em mim como um desejo, do que como uma realidade.
Não sei se sou igual ou não. Sei que tive um crescimento diferente e que não me sinto, nem quero ser, igual à maioria dos jovens da minha idade. Um sentimento que algumas pessoas pensam ser egocentrismo. Devido a ter crescido sozinho, aprendi a conhecer-me melhor, a fazer perguntas e a gostar de mim próprio. Apenas isso. Perguntas que uns fazem mais, outros fazem menos, e que alguns nem fazem.
Ultimamente as minhas perguntas voltaram-se novamente para aquilo que existe depois da vida, tal como a conhecemos. O meu afastamento da religião, e o facto da morte ter circundado a minha família recentemente estão na base destas dúvidas.
Tal como as crianças ficam a sonhar com um filme de terror, também eu fiquei assustado depois de ter visto uma urna reaberta com o cadáver coberto de larvas, no filme do Sherlock Holmes. Pronto, o cenário não é o mais agradável, mas depois de ultrapassada essa parte vieram as interrogações acerca do melhor destino a dar aos mortos. Seguiram-se as obvias dúvidas acerca daquilo que existirá ou não após a vida. Para algumas pessoas deverá parecer estranho, mas devo também dizer que um dos pensamentos que mais me passa pela cabeça é precisamente imaginar o meu funeral, se fosse hoje.
Após tudo isto, recordo-me do meu dia de aniversário quando um carro não abrandou, comigo no meio da passadeira. Hoje, depois de pensar em acidentes e atentados no metro, caminhava ao longo do passeio e apercebi-me da pouca distância que me separava do autocarro que seguia a grande velocidade mesmo a meu lado, pronto a levar qualquer coisa à frente. Percebi que apesar da morte ter uma data de encontro marcada connosco, está sempre lá, à espera que demos um passo em falso.
Hoje despedi-me da pessoa de quem mais gosto com a sensação de que era a ultima vez que a via. Apetece-me respirar fundo.
Esta última minha ausência foi motivada pela falta de vontade de escrever o que quer que fosse. Provavelmente devido à morte do meu avô. Podia falar da minha escassa sensibilidade, ou da suposta racionalidade com que enfrento os problemas mais sentimentais, aquela que as outras pessoas geralmente perdem, ou têm dificuldade em manter.
Mas não vou escrever sobre nada disso, até porque cada pessoa encara estas circunstâncias da melhor forma que consegue.
A morte é algo tão natural como a vida. Por isso mesmo não devemos perder muito tempo a lamentarmo-nos com coisas que não dependeram de nós próprios. As outras, as coisas que dependem, merecem muito mais atenção.
E melhorarmo-nos a cada dia, apenas de nós depende. Hoje tive oportunidade de fazer das coisas que mais gosto me dá, debater. Debati com personalidades relevantes, um assunto importante. Não a discussão vulgar do dia-a-dia, que pouca ou nenhuma credibilidade nos dá.
Debater dá a oportunidade de nos mostrarmo-nos aos outros, mostrando aquilo que consideramos ser o melhor de nós. E deste modo, não pode haver melhor coisa que ser elogiado num debate. Elogiado por pessoas com experiências de vida. E não só pelas palavras mas também pela pessoa que sou. Sinto-me diferente dos outros. Sinto-me contente!
Bem, isto ultimamente tem estado um pouco frequentado demais. Como já disse, opostacerca do teste de morte está nos lugares cimeiros da busca no Google. Como, não sei. Mas quando o escrevi, até hesitei, já que se trata de um tema não muito interessante. Mas o que é facto é que há muita gente a pesquisar sobre ele, e, se a procura for persistente, vêm parar cá ao Contraditório.
Para dizer a verdade, não me agrada muito. Não é por não gostar muito da cultura brasileira e, por isso, da generalidade dos brasileiros... Lol. É mesmo pelo facto dessas pessoas cá estarem em busca de algo e não por simpatizarem com o blog. Secalhar, nem chegam a sair do link do post. Mas pronto... =p
Também este é um post que podia bem não existir! LOL