Devia ter uns 6 ou 7 anos e estava pela primeira vez a mexer na neve e pela primeira vez, e única que me recorde, na Serra da Estrela. Para além das mudanças lógicas e naturais do crescimento, apetece-me utilizar a minha memória saudosista para perceber o que mais mudou em mim. Hoje, 10 ou 11 anos depois, mantenho um olhar crítico acerca de tudo o que me rodeia, e continuo a detestar ser tratado como alguém imaturo e incapaz de pensar. Mas existem mudanças significativas, positivas e negativas.
Vamos começar pelas negativas, como eu gosto, o melhor vem no fim porque é o que nos fica no pensamento. Se na altura eu confiáva à minha mãe a escolha do vestuário, hoje não saio de casa sem perder meia hora a arranjar-me. Essa deve ter sido a pior mudança. Não fui capaz de escapar à tendência geral de valorizar muito a imagem. No entanto, como me aconselhou a professora L., continuo a valorizar muito mais o ser do que o parecer, e disso orgulho-me. Quanto me tiraram a fotografia, devia estar a sentir-me mal por estar de gorro, hoje gosto.
Na altura, tinha muitos sonhos e esperanças. Mas, se por um lado hoje tenho menos, por outro digo os que tenho em voz alta sem receios nem vergonhas. A perda da inibição deve ter sido a melhor mudança. Tinha vergonha de abraçar, de dizer a alguém que gostava dela, de revelar algum aspecto íntimo de mim, de pedir desculpa, de dizer o que pensava, de me destacar e de me revoltar. Hoje estou diferente, mas ainda assim mentia se dissesse que me tornei uma pessoa fácil de descobrir...
E que mais? Continuo a não gostar de pôr títulos nas coisas. Continuo a ter braços muito magros. Continuo a sentir as pernas fraquejar quando me sinto ameaçado. Continuo a não gostar de mostrar os dentes quando rio. Continuo a gostar de ouvir as conversas dos outros. Continuo a ser exigente e perfecionista. Passei a gostar do amanhecer. Passei a fazer coisas más. Passei a ter confiança em mim. Deixei de me esconder. Deixei de ter medo da vida.
Sabe a pouco, não é?
À volta do quarto
Nuvem de cabelo em pé
Pintura de guerra
Multiplica por quatro
Vejo o teu retrato em pó
E o radio berra:
Estou farto e farta e farto e farto de estar só!
Mas aos desasseis é só de uma vez...
O Natal chega a todos, ninguém lhe consegue ser completamente indiferente, e cada um vive-o de uma forma e intensidades diferentes. Sobre o Natal eu não vou dizer nada.
Feliz Natal...