- "Olhe, eu estive a ouvir a conversa e acho que é excepcional, deve ser um excelente aluno. A forma como defendeu os seus argumentos foi brilhante... Mostra que tem princípios, os meus parabéns!"*
Uma das coisas que cedo aprendi foi que não é bom nós nos vitimizarmos. Nunca gostei de o fazer nem gosto que outros o façam, mas existem momentos em que não podemos deixar de olhar para as coisas como elas são, e expor sem medos que estamos a ser tratados sem o valor que merecemos. Durante o meu crescimento senti muito isso, apesar de raramente o demonstrar. Senti que tinha capacidades que não eram valorizadas nem reconhecidas, e que merecia ser tratado de forma diferente.
Sentia que tinha uma sensibilidade e uma maturidade para discutir certos assuntos algo diferente da maioria dos meus colegas. Senti que me interessava por coisas para as quais não me 'exigiam' que o fizesse. No entanto, independentemente de me exigirem ou não, eu apenas pedia que reconhecessem o meu interesse, o que nem sempre aconteceu.
Hoje já ultrapassei mais a fase de me comparar com outros e tento apenas tornar-me uma pessoa melhor e mais consciente. Isso implica ser crítico com o tudo o que me rodeia, característica que já a minha professora primária detectara em mim. Não sei se sou mais ou menos crítico e consciente do que aqueles que me rodeiam, mas sei que sou diferente deles.
É por isso que sabe muito bem ouvir coisas destas de vez em quando, ainda que seja mesmo muito de vez em quando. Saber que somos capazes de cativar o interesse e a atenção de uma pessoa que não nos conhece de lado nenhum para no fim recebermos um 'parabéns' é muito compensador e faz-nos esquecer todas as incompreensões por que passamos. Faz-nos concluir, por exemplo, que vale a pena continuar a questionar o que oiço e não simplesmente aceitá-lo só porque é a professora que o diz, ainda que isso me valha olhares de descrédito da minha colega do lado.
* adaptado a partir da minha memória