-Olha, tu escreves?
-Não.
-Podias escrever...
-Eu tenho um blog. Mas não escrevo sobre isto.
Não me apetece escrever. Mas o que podia ser só falta de vontade é possivelmente algo mais, quando se perde também a vontade de outras coisas. Vontade de desejar um bom dia à mãe, por exemplo. Enfim, o David foi a uma psicóloga, e ambos chegaram à conclusão de que ele não está bem. Mas o que a psicóloga não entendeu, é que ele nunca esteve.
Apesar de nunca ter estado bem, já estive melhor. Ainda ontem comprovei isso mesmo quando me pus a observar os álbuns de fotos (do tempo em que as minhas câmaras digitais ainda não tinham eliminado os registos em papel). Nessa altura eu tinha uma vida um bocadinho melhor, calculo. Quer seja naquelas fotos em que eu era bebé, em que eu ainda gostava de praia, em que eu estou vestido de euro no carnaval, em que viajava com os meus pais para o Algarve, Alentejo e Trás-os-Montes, nas festas de aniversário, na ginástica, ou então no dia em que recebi o prémio de melhor aluno da escola primária. Nessas alturas eu pensava em como seria quando tivesse 16, 18 ou 20 anos. Imaginava-me alto, mas pouco mais que isso... O futuro era uma incógnita, mas não me metia medo.
Vou acreditar na psicóloga, e pensar que este medo deve-se à desilusão de perceber que a vida de adulto não é o que imaginava.