Quando me começaram a surgir as primeiras borbulhas, além de dor, provocavam-me vergonha. Era mais uma daquelas coisas sem sentido que nos acontece em determinadas alturas, mas no fundo, admito, até há uma explicação. Eu queria evitar ao máximo os sinais físicos de que estava a crescer... O porquê guardo para mim, até porque não sei bem, são só desconfianças de um sentimento remoto que me fustigou há muito tempo já.
Pensava que aquilo não ia evoluir muito mais, mas quanto pior me sentia, mais borbulhas me apareciam. Houve uma altura em que já não restava vergonha nenhuma, comparada com o desejo de ter uma cara 'limpa'. Experimentei o Clearasil, Clean & Clear, Vichy, Aroma da Terra. Depois deixei de comer chocolate, depois batatas fritas, a seguir tudo o que fosse doce, acabando no chocolate em pó que punha no leite do pequeno almoço. Enfim, anos de dinheiro e tempo estragado, e eu continuava a sentir qualquer coisa quando, mal que acordava e ainda na cama, passava com o dedo pela cara para perceber qual ia ser o meu humor naquele dia. Pode parecer parvo para quem nunca passou por isto, mas a minha boa disposição diária variava conforme as borbulhas que tinha, tal era o estado a que isto me conseguia afectar. Os senhores de psicologia devem saber explicar.
Finalmente, em Setembro fiquei a conhecer/saber duas coisas. A minha nova (e simpática) médica de família por um lado, e que ela achava o meu caso suficientemente grave para me mandar para a especialidade de dermatologia em Lisboa, por outro. Era chegada a altura de me despedir das minhas companheiras durante anos, e apesar de as detestar, criei inevitavelmente uma certa cumplicidade, e tornei-me um especialista nelas. Em Janeiro, no dia em que fiz anos, lá fui eu ao Hospital de Santa Maria. Como presente trouxe uns cremes e um antibiótico na receita. O antibiótico provocou-me algum receio, mas segudo o dermatologista (também simpático) não era muito forte. Termino de o tomar este mês, e graças a ele 'm clean, e amanha vou poder levar para a Futurália umas Ruffles de presunto na mochila, dois anos depois. (Já fazia falta um post mais ligth).
=)