"-Viver nesta época devia ser espéctacular... Para os que viviam bem claro."
"-Todas as épocas são sempre boas para quem vive bem."
"-Sim, mas quem é que vive mal hoje?"
No outro dia fui ao Mosteiro dos Jerónimos. E foi lá que possivelmente falei com uma das pessoas que mais mal vive, das que conheci em toda a minha vida.
Alguns momentos antes, no Mac Donalds uma rapariga morena, jovem e bonita encontrou-me entre o seu caminho. Nunca gostei de virar a cara a ninguem, e por isso, também não gosto de virar a cara a quem me pede alguma coisa. Mas não sou como a maioria das pessoas que afirma não gostar, mas depois fá-lo com uma naturalidade genuína da sua consciencia. Apesar de eu também o fazer na rua, no metro... enfim, sempre que vou a Lisboa, não podia fazê-lo a ela. Eu a comer, e ela à espera do que quer que fosse, mesmo alí ao meu lado. Não dava para desviar o olhar. Tanto assim que aceitou os dez cêntimos que eu lhe dei.
Eu tinha a esperança que ela não os quisesse, e assim encontraria uma desculpa para a minha consicencia. Mas aceitou, e agradeceu. Não tive desculpa.
Infelizmente não senti muitos remorsos pelo que lhe tinha dado. Ela podia estar a mentir, podia apenas não querer trabalhar, podia várias coisas.
Pouco tempo depois, voltei a cruzar-me com ela no Mosteiro. Estava agora sentada num degrau mas com o mesmo olhar nu e opaco. Tive vontade de conhecer a vida dela. E como tive vontade, perguntei-lhe, depois de hesitar um pouco. E ela não teve poblemas em responder-me. Disse-me algumas coisas. Poucas mas muitas ao mesmo tempo, que pareceram tudo menos mentiras. Coisas que eu tinha vontade de resolver, de ajudar a ultrapassar. Mas a minha única ajuda, foram os dez cêntimos...
Se ela não tivesse que fugir da polícia, que proibia a mendicidade no Mosteiro, teria-lhe provavelmente dado mais algum dinheiro. Mas espero que o valor que lhe dei por uns minutos, lhe tenha servido de algo. Ela agradeceu, mas não sei.
Olá! Desculpa a "invasão", mas estava a vaguear pela blogosfera quando me deparei com este post. Em primeiro lugar, acho que escreves muito bem.
Em segundo lugar, tenho a dizer o seguinte: Também eu já passei por aquilo que estás a passar. Houve uns tempos em que isso me acontecia quase todos os dias da semana... E eu fazia o que podia, até cheguei a comprar óleo alimentar que uma senhora me pedira. Estou inscrita no voluntariado (embora não me tenham chamado ainda) e estes assuntos não me passam ao lado... Por vezes sinto-me culpada de viver no conforto em que vivo. Tenho pensado, desde esses tempos em que isso me acontecia com frequencia, em como poderei ajudar cada uma dessas pessoas. Mas depois voltei à triste realidade: é complicado, muitíssimo, ajudar cada pessoa individualmente. Até porque o que as levou a viver naquela situação é diferente de pessoa para pessoa... Mas não desisto e assim que puder praticarei voluntariado. Tenta fazer o mesmo. Estás a dar o teu contributo e ao mesmo tempo sentes-te melhor contigo, por estares a ajudar quem mais precisa.
Beijinhos *
De
Symph a 18 de Abril de 2009 às 21:04
Sentimo-nos sempre impotentes quando nos depararamos com situações dessas. Olhamos para nós mesmos e percebemos que afinal de contas temos tanto... O mundo não é realmente nada equalitário. =/
Beijinho*
De
xana a 20 de Abril de 2009 às 11:27
Uma palavra salva vidas.
e se ela te agradeceu por certeza que não foi pelo dinheiro (:
beijinhoooo e desculpa a invasão..
Olá :) Olha, adicionei-te como amigo... Podes adicionar-me também! Beijinhos *
De suzana a 22 de Abril de 2009 às 17:05
10 cêntimos?! Só podes tar a gozar!!
De
david. a 24 de Abril de 2009 às 22:57
Acho que deu para ver que não estava a gozar. Mas sim, tens razão, é vergonhoso.
Olha, mais vale 10 cêntimos do que nada ;)
De Marta a 3 de Maio de 2009 às 13:00
Senti exactamente a mesma curiosidade e afecto por um mendigo que encontrei na baixa. Houve uns tempos em que tentava visitá-lo regularmente, e até cheguei a levar-lhe comida, mantas, dinheiro. Mas ele assustou-me uma certa tarde, teve um comportamente estranho e disse-me algo muito poderoso. Nunca mais tive coragem de o visitar.
Se fiz bem ou mal, não sei. Mas o meu bem-estar emocional não conseguiu lidar com o assunto.
De
david. a 3 de Maio de 2009 às 13:31
Hum... =/
Pois, eu se pudesse provavelmente também lá a voltaria para vê-la. Ou tentar, pelo menos.
Hi!
Bem, tal como alguem já referiu, também ando por aqui a conhecer os meus vizinhos "blogosferenses".
Ponto nº 1 - Parabéns, tens um blog muito fixe e gostei especialmente deste post. Escreves bem, e finnaly I found a guy with a blog.
ponto nº 2- É de pensar, essa situação: é muito, mas mesmo muito triste vermos pessoas a pedir, com o seu corpo reduzido a pele e osso e as suas roupas a decomporem-se de tão usadas. Mas esta tristeza é elevada à centésima potência quando são crianças...E a culpa de lá estarem e de familias negligentes e, se pensarmos bem, da sociedade. Enfim, quis apenas deixar o meu testemunho.
PPP
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