É ponto assente que gosto de contrariar, colocar-me do outro lado, do lado diferente ao preferido... Gosto de outras coisas que a maioria das pessoas não gosta, tipo ver até ao fim o genérico quando acaba um programa de televisão. Gosto de detectar alguma coisa a correr diferente do que é suposto, tipo uma mosca a passar no écran enquanto o resto das pessoas se concentra no filme. Em certos filmes, chego a torcer pelos vilões quando os bons são bons demais.
Hoje comemora-se o centenário da implantação da república. Independentemente do valor histórico da data, e falando de um modo menos sério, não acho muita piada aos republicanos. Estou do outro lado, do lado dos monárquicos, em especial da família real. Nos últimos tempos surgiu em mim uma intensa curiosidade acerca dos últimos anos da monarquia portuguesa.
Geralmente quando se pensa em reis e, fantasias à parte, se tenta desenhá-los na nossa cabeça, existe uma espécie de nuvem cerrada que nos impede de imaginá-los e idealizá-los. A essa nuvem chama-se provavelmente desfasamento temporal, já que é hoje bastante difícil imaginar um D. Afonso Henriques a conquistar um castelo, ou o D. Sebastião a partir para África. Eu pelo menos não o consigo fazer de modo satisfatório, a diferença entre o Portugal em que vivo e o Portugal da época é abismal. Mas se imaginar um monarca do século XIV é tão difícil, pensar no D. Carlos a viajar de automóvel há apenas cem anos atrás não é assim tanto. É por isso que me tenho interessado em tentar conhecer como era o Portugal monárquico, numa época onde o modo de vida era semelhante àquilo que é hoje (fazendo uma análise abrangente, lógico), onde a actualidade política era incrivelmente parecida à de hoje, onde havia automóveis, máquinas fotográficas, comboios, água canalizada, electricidade, fogo-de-artifício, entre outras coisas que se permanecem iguais. Pensar no Portugal de hoje com um rei não me parece fácil, mas na altura não se conhecia outra realidade, a nacionalidade tinha nascido com a monarquia. O período entre 1950 - 1910 tornou-se na minha época preferida da história portuguesa. Quem gosta de história entende o meu entusiasmo...
Por tudo isto, tenho-me interessado em pesquisar tudo o que houver acerca da última família real portuguesa. Devido a trabalhos escolares, também tenho estado por dentro dos dezasseis anos da primeira república, e tenho analisado todos os efeitos negativos que, ideais à parte, esta época representou para Portugal. Hoje, não tive vontade nenhuma de comemorar, tenho antes tentado imaginar o que ia na cabeça daquele rapaz de 20 anos chamado Manuel que foi obrigado a fugir do seu país há cem anos atrás, e que por acaso era rei.
A monotomia esvazia-me a imaginação, o pensamento, a vontade de contar coisas. O último post foi intitulado 'Fim.', sem mais nada, sem mais explicações. Não tinha nada para explicar, nem ninguém que quisesse uma explicação. Mas ao contrário do que pôde parecer aquele post não estava relacionado com o blog, o fim era outro. Mas por coincidência ou não, aquele fim coincidiu com o inicio de um longo periodo em que não me apeteceu escrever nada. Mesmo que tenha tido algo para contar, faltou-me a vontade. Não sou como muita gente que sente necessidade de desabafar através da escrita, até me chego a irritar quando o faço. Passar os sentimentos para palavras deixa-me insatisfeito, as letras são apenas simbolos que não podem nunca equivaler a um olhar, um som ou qualquer outro sentido.
A minha relação com o blog anda mal já há muito tempo, mas como acontece com quase tudo à minha volta, não tenho coragem de lhe dar um ponto final. Não sei bem qual é o nosso problema, penso que deve ser como aquelas relações conjugais que se esgotam ao fim de algum tempo, sem discussões nem traições, apenas não existe mais nada para descobrir. Ele sabe tudo da minha vida, já assistiu a várias vitórias e fracassos meus, já me viu mudar de estilo de escrita, estilo de música, estilo de vida... Apesar de tudo isto, continua sempre aqui à minha espera, impassível e sem reclamar, sem exigir nada de mim. E eu não gosto disso! Gosto de contrariar e de fazer o contraditório, mas onde está a versão oficial? Aqui ninguém me estimula, ninguém se opõe, diga o que disser está sempre tudo bem. Assim é chato demais.