Quarta-feira, 27 de Janeiro de 2010

Eu e a Terra

 

-Já viste, a Terra é aquele ponto minusculo alí comparado com o universo. E nós andamos sempre preocupado com as nossas vidinhas...

-Pois é. Se eu morresse agora não fazia diferença nenhuma.

-Pois não.

 

Esta conclusão veio a partir de uma fotografia presente no documentário de Al Gore, "Uma Verdade Inconveniente", e remete o pensamento para insignificância da vida. Mas se por um lado tira valor à vida, por outro retribui-lhe a dobrar. É que quando pensamos em cenários como a extinção humana, existe qualquer coisa dentro de nós que exige que desvalorizemos aquelas futilidades do dia-a-dia e nos concentremos num esforço colectivo. Acho que isso é natural quando se trata da nossa própria sobrevivência.

Mas o problema é que essa necessidade de sobrevivência se esvai rapidamente porque não sentimos o perigo aos nossos pés. É essa inracionalidade que faz com que eu às 11h estivesse concentrado nas palavras do Al Gore, e às 23h estivesse chateado e empenhado em mostrar isso na escola no dia seguinte, provavelmente para chamar a atenção. Isto irrita-me, porque afinal não sou diferente de ninguém. Mas também não tenho que ser...

 

música: David Fonseca - Stop 4 a Minute
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publicado por david. às 21:00
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Domingo, 24 de Janeiro de 2010

Serei egoísta?

As unicas alturas em que gosto de partilhar de livre vontade é quando não gosto das coisas. Aí, aproveito para fazer boa figura. Sou um pouco interesseiro, mas nada que afecte a minha autoconfiança, pois sei que muito bem quando devo optar por ceder. Controlador nato, gosto de convívio, embora o facto de ser tudo ao molho já me incomode bastante. Sei fazer as minhas jogadas para ser sempre a que pessoa que reparte, para ficar com a melhor parte, não fosse eu cheio de arte.

 

(Não fui eu que disse, foi o resultado do teste do i.)

 

sinto-me:
música: Jorge Palma - Valsa de um Homem Carente
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publicado por david. às 16:31
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Terça-feira, 19 de Janeiro de 2010

E se toda a gente quisesse viver como eu?

Hoje enquanto o autocarro me levava para casa, o escuro da noite não me impediu de concentrar a minha atenção nas vistosas moradias que preenchem a paisagem da viagem. São daquelas moradias grandes, construídas naquela altura em que os portugueses pensavam que eram ricos. À excepção de duas ou três, habitadas por advogados, praticamente todas as outras me pareceram estar vazias. Questionei-me acerca da utilidade de ter casas tão grandes, e acerca do conforto de viver nelas. Depois lá veio a tal pergunta "E se toda a gente no mundo pudesse viver assim? Era possível? O planeta aguentava?". Não aguentaria certamente. E se toda a gente quisesse viver como eu?

No outro dia estava já deitado na cama, a ouvir música pelo mp3, e com um saco de água quente a aquecer-me os pés. Tal como um velho, como alguém me relembrou.

Normalmente deito-me já tarde, e cheio de sono. Mas naquele momento estava ali deitado na cama, sem muita pressa de adormecer, e como tinha que esperar pela mensagem diária a dizer "boa noite, até amanhã", a que eu responderia com algo simpático e com um smile no fim, fiquei livre para pensar em qualquer coisa.

Ao ínicio, e ao mexer os pés, lembrei-me daquela vez em que estava deitado com a minha tia e algo me fez acreditar que os meus pés tinham tocado no fim da cama. Parecia mesmo que as minhas pernas já eram tão compridas como eu desejava.

Pouco depois lembrei-me das vezes em que eu estava deitado na cama com a minha mãe, e sabendo que ela não gostava, insistia em «mergulhar» nos lençóis e explorar tudo o que havia lá em baixo. A minha imaginação levava-me a pensar que estava noutro sítio, e aquela mistura de sensações entre o perigo do escuro e a segurança de ter a minha mãe por perto chegava para me divertir.

Mas agora já não me deito com a minha mãe nem com a minha tia, e estava por minha conta. A minha imaginação podia levar-me onde quisesse, mas tinha que levar sozinho com as consequências.

Decidi não pensar em muitas coisas, apenas recordei etapas da minha própria vida, coisas que já senti, pensei, e vi... Explorei o conforto que estava a sentir dentro daquela cama, e em vez de cobiçar uma vida melhor, apercebi-me da imensidão de pessoas que desejariam estar onde eu estava e ter uma vida como a minha. Afinal, enquanto eu passo o tempo com lamentações, haverá muita gente a querer viver como eu.

sinto-me:
música: Jorge Palma - Estrela do mar
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publicado por david. às 21:32
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Sexta-feira, 8 de Janeiro de 2010

Está sempre lá...

-Porquê que tu és assim?

-Não sei, sou diferente...

-Tu não és diferente! Tu queres ser mas não és, és igual a todos os outros!

 

O diálogo de hoje não se relaciona muito com o que vou escrever, mas mesmo assim quis partilhá-lo aqui devido à violência que estas palavras têm em mim. Afecta-me muito mais ser conotado como igual aos outros, do ser visto como diferente. Se calhar este facto prova que a diferença assenta mais em mim como um desejo, do que como uma realidade. 

Não sei se sou igual ou não. Sei que tive um crescimento diferente e que não me sinto, nem quero ser, igual à maioria dos jovens da minha idade. Um sentimento que algumas pessoas pensam ser egocentrismo. Devido a ter crescido sozinho, aprendi a conhecer-me melhor, a fazer perguntas e a gostar de mim próprio. Apenas isso. Perguntas que uns fazem mais, outros fazem menos, e que alguns nem fazem.

Ultimamente as minhas perguntas voltaram-se novamente para aquilo que existe depois da vida, tal como a conhecemos. O meu afastamento da religião, e o facto da morte ter circundado a minha família recentemente estão na base destas dúvidas.

Tal como as crianças ficam a sonhar com um filme de terror, também eu fiquei assustado depois de ter visto uma urna reaberta com o cadáver coberto de larvas, no filme do Sherlock Holmes. Pronto, o cenário não é o mais agradável, mas depois de ultrapassada essa parte vieram as interrogações acerca do melhor destino a dar aos mortos. Seguiram-se as obvias dúvidas acerca daquilo que existirá ou não após a vida. Para algumas pessoas deverá parecer estranho, mas devo também dizer que um dos pensamentos que mais me passa pela cabeça é precisamente imaginar o meu funeral, se fosse hoje.

Após tudo isto, recordo-me do meu dia de aniversário quando um carro não abrandou, comigo no meio da passadeira. Hoje, depois de pensar em acidentes e atentados no metro, caminhava ao longo do passeio e apercebi-me da pouca distância que me separava do autocarro que seguia a grande velocidade mesmo a meu lado, pronto a levar qualquer coisa à frente. Percebi que apesar da morte ter uma data de encontro marcada connosco, está sempre lá, à espera que demos um passo em falso.

Hoje despedi-me da pessoa de quem mais gosto com a sensação de que era a ultima vez que a via. Apetece-me respirar fundo.

 

sinto-me:
música: The Gift - Nice and Sweet
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publicado por david. às 23:15
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