Andei mais de comboio. Fiz uma directa no MSN. Conheci aquela pessoa. Fui à SIC numa visita de estudo. Gastei mais dinheiro em roupa. Criei um blog de política. Morreu o meu avô. O David Fonseca afirmou-se como o meu cantor favorito. Passei a ter uma conta bancária e cartão de crédito. Entrei numa peça de teatro. Chorei mais. Fui à Assembleia da República e sentei-me no lugar do Francisco Louçã. Viajei menos. Acampei nas Berlengas. Não vi nenhum OVNI. Quase não mexi nas cartas deTarot. Ouvi mais música. Fui à SIC como convidado do "Nós por Cá". Beijei e abracei mais. Não tive jantar de turma. Tornei-me mais humanista. Quis mudar de escola. 19.5 e 10.8 Foram as minhas notas mais altas e baixas em testes. Acampei na Festa do Avante. Fui mais ao cinema. Pirateei mais filmes e menos músicas. Assisti a um jogo da Taça de Portugal. Comprei uma máquina de filmar. Criei um blog de fotografia. Não fui à queima das fitas da Covilhã, como estava planeado. Passei definitivamente a cortar o cabelo em casa. "Os Edukadores" foi o filme que mais gostei. Mudei três vezes a imagem do Contraditório. Tive professores novos. Deixei de tentar encontrar aspectos positivos na minha família. Passei a guardar as moedas de 2€ que tivesse na carteira. Aprendi a saber o que não devo comer. Não sei se cresci intelectualmente. Não patinei no gelo. Passei a ter o reconhecimento de algumas pessoas. Defini objectivos a longo prazo. O Bloco de Esquerda não passou a ser o terceiro partido como gostava e esperava. Fui ao El Corte Inglês. Assisti a um concerto do David Fonseca. Passei a visitar e a conhecer melhor Lisboa. Entrei nas urgências do hospital. Deixei de controlar tão bem os meus sentimentos, emoções e desejos. Andei de comboio sem pagar bilhete. Fumei. Tive sintomas de gripe A e fui evacuado da sala de aula. Criei o cartão jovem. Andei mais de metro. O meu gato desapareceu e acolhi uma nova gata. Cantei num karaoke. Tive mais conversas emocionantes. Chorei à frente de pessoas. E consegui com que tu estivesses agora a ler isto!
Para concluir, percebe-se que foi um ano em que a minha vida continuou a não ter grandes experiencias, ou algo que desse muito gosto partilhar aqui. No entanto, não posso partilhar tudo o que me aconteceu, e não é mentira que 2009 trouxe novas pessoas, novas emoções, e acontecimentos que me marcarão para sempre. É esse lado mais intimista e difícil de partilhar que me faz olhar para este ano e relembrar momentos muito bons, que não me fazem esquecer, mas fazem-me não me lembrar dos maus. Sei que haverá alguém que concordará comigo se disser que os sentimentos superam em importância qualquer outra coisa. Por isso não tenho muita pena dos sítios fantásticos onde não fui, das experiencias tão agradáveis que não senti, e dos acontecimentos extraordinários que não presenciei. Sempre tive outro tipo de objectivos. Possivelmente, quem não me conhece bem não o dirá, mas aqueles que me conhecem verdadeiramente sabem que não tenho grandes ambições. Não sonho com uma grande vida, com um grande ordenado e uma grande carreira. Na prática nem sei se tenho ambições, acho mais adequado chamar-lhe necessidades. Necessidade de me sentir livre, necessidade de desprender-me deste sitio cheio de convenções e limitações, e necessidade de ser eu. Acho que não é pedir muito... Certamente que não será em 2010 que atingirei esse objectivo, mas acredito que estou no caminho para o conseguir. O ano passado, quando escrevi o balanço de 2008, o meu sonho para 2009 era precisamente "voltar a acreditar em sonhos". Pelo menos isso, consegui!
Bom 2010!
22:19h. Provavelmente, mais de metade dos portugueses está neste momento à mesa, em família, a saborear a refeição preparada cuidadosamente durante a tarde. Os telefonemas e as mensagens já estão todas enviadas. Conversa-se, e a televisão está ligada num canal onde passa um filme a que poucos dão atenção. Recordam-se momentos, os mais novos esperam nervosamente pela meia-noite (os que esperam), e os mas velhos meditam sobre a quantidade de natais a que ainda assistirão. Nas famílias melhores partilham-se experiencias e aproveita-se para relembrar o amor que as ligam. Nas piores, faz-se o possível para evitar problemas, pelo menos nesta noite.
A minha ingenuidade leva-me a acreditar que até o marido alcoólico tenta hoje concentrar na família a sua atenção, e que o toxicodependente tenta reservar um pouco da sua noite para pensar no futuro. E os ladrões, roubarão hoje? E os doentes, será que a sua dor aliviará? E astronautas? E as crianças que são escravizadas na Índia, será que hoje trabalharam menos? E os maquinistas dos comboios, fechados numa cabine no meio do nada? E os pescadores, no meio do mar, estarão unicamente concentrados no pescado? E qual será o tipo de clientes que um taxista apanhará à meia-noite de hoje?
Sempre me surgiram estas dúvidas. Gostava de ser omnipresente, e observar sempre tudo o que me apetecesse, assim como oiço sempre qualquer música que me venha à cabeça quando estou no Youtube. Apetecia-me estar agora no Cabo Espichel, e saber o que estará o faroleiro a fazer. E nas estações meteorológicas, haverá alguém a estudar os dados climatéricos para que amanhã possamos ver as previsões na televisão? E depois seguir rapidamente para outro sitio qualquer. Estar em todo o lado, era a prenda que mais desejava, se calhar por ser impossível...
Mas será que esta magia natalícia que eu sinto está presente em todo o lado? Sei que não. E não são só os sem-abrigo que não a sentem, como por vezes esta sociedade de olhos fechados quer fazer passar. Sei que haverá permanentemente alguém a sofrer, a chorar, e a nascer e a matar. Se calhar mesmo ao nosso lado. E se calhar até são algumas dessas coisas que uma parte de nós está a fazer, sem que demos por isso. Este estado de espírito que sinto e que sentem aqueles que estão à minha volta é apenas um sentimento. Um sentimento tal como outros, que por mais que gostasse, não é universal.
Sinto-me bem por poder senti-lo, e sinto-me mal por haver quem não o possa sentir.
Feliz natal!
Como a EDP não é uma empresa que apresente grandes lucros, nem que cobre valores altos pelos seus serviços, não podemos exigir uma rede eléctrica capacitada e capaz de resistir a alguns temporais. Assim sendo, vou esperar que a electricidade regresse, guardando para mim as lamentações e os incómodos.
Mas a verdade é que já há algum tempo que a minha região não vivia um temporal desta maneira. Mais concretamente, desde Novembro de 2006. Ao assistir às notícias constantes e permanentes dos estragos do mau tempo, na rádio, na televisão, voltei a sentir saudades. Saudades da emoção de lá estar, de ser eu a ver e a saber as coisas pela primeira vez (pelo menos tinha essa ilusão), de me sentir parte da acção, e de ser eu a escolher o factos que depois as outras pessoas, que também lá queriam estar, iam saber. Só que com uma desvantagem. Eu estava lá e sabia tudo, e elas iam saber o que eu deixasse.
Em 2006, quando o rio cresceu mais do que devia e a escola fechou, eu estava lá. Estava lado a lado com a câmara da SIC, e aos 14 anos era director de um jornal. Bem sei que não era um jornal a sério, mas tinha o que era preciso, noticias e pessoas que as liam. Também sei que nunca dei a este facto o valor que ele realmente tinha, e por isso fiquei sinceramente espantado quando começaram a surgir os convites. Depois da rádio e do (outro) jornal local, vieram as entrevistas ao jornal da cidade mais próxima. E depois o Correio da Manhã, e a primeira edição do Sol, e depois a Fátima Lopes, a Praça da Alegria, e o Você na TV. É engraçado recordar como fui alvo da disputa entre a SIC e a TVI. Só podia ir a um, e escolhi a SIC. "A Fátima é mais simpática e dá presentes melhores" aconselharam-me na altura. Estava muito nervoso, e aquela ambulância a subir a rua de S. Bento mesmo atrás do táxi onde eu seguia só piorou as coisas. Mas no fim correu tudo bem, e hoje ao rever o programa, ainda me lembro de certos pormenores do momento. A seguir veio a Praça da Alegria, e eu fui pela primeira vez ao Porto.
Mais tarde, quiseram fazer uma reportagem comigo para o Jornal da Noite, e também o Herman me queria como convidado. Já estava cansado de tanto mediatismo, e não aceitei.
Foi nesta altura que os meus colegas ficaram a conhecer a faceta de jornalista do David, já que até alí apenas conheciam um miúdo isolado e com pouco interesse.
Tudo muda, e com o passar do tempo fui ganhando outras prioridades. Durante meses fui massacrado com uns insistentes "Oh David, não mais fizeste o jornal?", a que respondia com uns enjoados "Pois...".
Isto tudo para dizer que não tenho dúvidas do que quero ser, e para onde quero ir. Isto, se é que alguma vez tive... Na segunda-feira percorri a Avenida de Berna em busca da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Será que vou conseguir?
Desta vez não vou fazer mais uma grande explicação para a minha ausência, como se fosse algo de extraordinário. Fiquei sem vontade, mas hoje resolvi modificar isto e estou de volta, e cheio de vontade de escrever, que é o que interessa!
Já houve vezes em que expliquei as circunstancias de criar este blog. Achar piada à ideia de escrever sobre a minha vida, o desejo de contar episódios engraçados do dia-a-dia, entre outros. Não pensei que a minha vida podia não ser assim tão interessante, e que os tais episódios engraçados podiam não me calhar. Torna-se difícil manter isto, mas vou tentar!
Eis-me de volta!