"Oh, avó é que neste fim de semana eu vou acampar à Festa do Avante..."
"Avante?... Isso não é dos comunistas?"
"Sim, é."
"Ah, tu és comunista?..."
"...Ficaste decepcionada?"
"Não, é que muita gente que não gosta deles. Eu gosto do Paulo Portas, sabe falar. Não é da esquerda nem da direita. E daqui pouco vai dar o debate dele, não é?"
"Ele é o mais à direita avó..."
"Mais à direita?"
Ontem perdi um comboio por ficar a falar com um velho alentejano comunista (daqueles de ideologia obstinada devido à pobreza e dependência por que passaram).
Hoje desci mais uns pontos na consideração da minha avó porque, no pensamento dela (pensamento esse que não me apeteceu esclarecer), sou comunista.
A guerra de ideologias é realmente do pior que existe. Uma ideologia é sempre questionável, mas é capaz de limitar o pensamento. É capaz de limitar o pensamento da minha avó que não se apercebe que está manipulada por desinformação que nem precisa de muito para lhe convencer que o comunismo é uma coisa horrível e temível. Não deixa de ter desculpa, já que é politicamente ignorante.
E é também capaz de limitar o pensamento do velho senhor que, apesar de ter sofrido com o fascismo no passado, continua a sofrer com ele no presente. Isto porque não lhe permite fazer uma avaliação imparcial das orientações políticas, e o leva a escolher mecanicamente a opção que lhe parece oposta ao fascismo, o comunismo. Isto além de o conseguir fazer desculpar coisas como a falta de direitos humanos na China, ou o atraso que se vivia na União Soviética.
Enfim.